Ao transitar entre carreiras, use todo o seu potencial.

É muito comum encontrar pessoas perdidas frente à necessidade de transitar entre carreiras. Geralmente não se sabe por onde começar, nem o que fazer com toda a história profissional passada. Além disso, existe a ansiedade frente à novos cursos e, mais importante, o receio quanto à possibilidade de passar por uma redução de ingressos financeiros.

Meu pai, que sempre foi uma pessoa à frente de seu tempo e quem eu considero um grande profissional, me disse várias vezes: em qualquer carreira/geração, as pessoas passam por alguma mudança de paradigma muito grande, às vezes, até mesmo duas. É preciso sair na frente. Na minha época, foi uma visão mais administrativa da engenharia, entendimento de gestão, adoção de soluções tecnológicas. Não baixe a guarda e esteja sempre atenta às mudanças.

Eu sabia que não passaria por uma mudança drástica, muito menos duas. Sempre tive a certeza de que as mudanças seriam incontáveis, e chegariam muito mais rápido para mim do que chegaram para ele.

Sempre vi o migrar entre carreiras mais como uma necessidade, resultado da velocidade das mudanças tecnológicas e das novas profissões. Já virou clichê repetir que muitas das profissões dos próximos anos ainda não existem. Essa era a novidade de anos atrás; hoje em dia, já é algo natural. Se, décadas atrás, a geração do meu pai precisava se preocupar com sair da prancheta para usar um novo software, hoje temos que ter em mente que, talvez, a mudança vá além e implique aprender toda uma nova profissão.

Se observamos, podemos traçar os padrões de uma nova geração/grupo de pessoas: mais generalista que especialista, que “surfa” por diversos interesses e realidades, se adapta, se flexibiliza, compra qualquer tipo de briga. Quem entende esse movimento e aceita a natureza volátil e incerta da sociedade atual, surfa, como eu gosto de brincar, na crista da onda. Freelancers, nômades digitais, uma bela quantidade de pessoas que não consegue explicar seu trabalho para a família na ceia de natal, mas que toma as rédeas da volatilidade e aproveita as oportunidades que se apresentam no dia a dia.

O que podemos aprender com essas pessoas?

Passei muito tempo tentando entender onde estava a chave de quem havia feito mudanças exitosas. E por exitosas, eu entendia mudanças rápidas, capazes de superar os ingressos anteriores em poucos meses ou gerar mais qualidade de vida. Conheço, sim, pessoas que entraram em uma nova faculdade e começaram uma nova história do zero – caminho totalmente válido e que muitas vezes segue sendo o único, se seu objetivo é virar, por exemplo, médico, mas que não era meu foco.

Meu interesse estava em entender, por exemplo, os caminhos de pessoas formadas em artes plásticas, mas que atuavam no setor de compras de uma multinacional fabricante de válvulas industriais. De consultores de diferentes temas que até ontem tinham um emprego convencional, de filósofos que levavam a vida como freelancers de marketing. Gente cujo caminho intermediário não estava claro, mas que havia alcançado uma alta performance em um tempo curto.

O que eu comecei a identificar – e aplicar – foi um entendimento mais amplo do que são conhecimentos e experiências de vida, e como é possível ser estratégico ao utilizá-las para se posicionar e criar oportunidades. Meus conhecimentos podem ser aplicados de outra maneira? As pessoas que conheço podem formar um nicho? Os idiomas que domino e as experiências que vivi podem me abrir portas menos concorridas? A pessoa que sou pode ser apresentada como alguém interessante para um cargo por outros fatores além do conhecimento técnico mínimo exigido? Como esses diferenciais podem ser usados como pontos fortes e, além disso, ajudar a minimizar ou neutralizar fraquezas? Basicamente, análise SWOT, autoconhecimento e autocrítica.

Trânsito entre carreiras, oportunidades e competências

Isso nos leva ao ponto básico de qualquer ação de desenvolvimento profissional e pessoal: o mapeamento de competências. Não apenas um mapeamento superficial, em que nos entendemos como bons em um aspecto, e ponto. Aqui, o que vale é um mapeamento exaustivo, alinhado com entregas de carreira, experiências e resultados. Um conhecimento sólido sobre tudo o que fomos e somos capazes de fazer.

Com essa informação em mãos, é possível atuar em duas frentes:

  1. Planejamento e execução de migrações entre carreiras, entendendo como nosso potencial e nossos pontos fortes podem ser trabalhados de maneira a nos posicionar como um profissional interessante, com conhecimentos e experiencias que formem um contraponto com o conhecimento técnico básico exigido (ex: nunca gerenciei redes sociais, porém sou uma super designer gráfica e isso pode ser um diferencial na hora de conquistar uma vaga ou fechar clientes. Nunca trabalhei com gestão de contas, porém gerenciava projetos, domino 3 idiomas e me relaciono muito bem com pessoas de diferentes países e culturas, o que talvez me ajude a conquistar uma vaga de gerente de contas nessa agência com clientes em diferentes países).
  2. Estar sempre atento às oportunidades, entendendo como nossas competências se relacionam com as novidades do mercado e as brechas que se abrem, identificando tendências, buscando estar sempre à frente, antecipando mudanças, criando novas soluções e exercendo a autoliderança.

A cada dia, as oportunidades para quem se acomoda em uma única profissão e atividade diminuem. O contexto atual exige dinamismo, flexibilidade e versatilidade. Enquanto mercados tradicionais encolhem, startups e empresas inovadoras nascem, crescem, ganham investimentos e abrem dezenas de vagas. Muitas dessas vagas não exigem currículos ou área de formação específica, mas sim um tipo de atitude e posicionamento frente ao mundo, muito particular do contexto atual. Preferências a parte, é no hoje que vivemos, e é no hoje que precisamos encontrar caminhos.

Considero que este é um ótimo momento para quem tem o desejo de se reinventar e buscar novos caminhos. Por outro lado, também é um momento que pode ser bem duro para quem busca empregos mais tradicionais. Para ambos tipos de pessoas, ficam as questões: Como você pode alinhar as suas competências e o seu potencial às novas exigências do mercado e ao contexto socioeconômico? Como você pode se adaptar às mudanças do mercado de trabalho de modo a não se estagnar? Lembrando que, obviamente, nem todas as pessoas têm acesso às mesmas condições, mas que ainda assim existe um nível mínimo de auto responsabilidade comum à todas.

*Micaela Redondo é responsável pelos Projetos Especiais e desenvolvimento de processos de Social Selling da Penser e especialista em gestão de projetos.

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