Esta semana, o diretor-executivo da Penser, Fernando Pacheco, escreveu um artigo para o site do espanhol Marti Pernarnau. O texto aborda aspectos culturais e históricos do futsal de alto nível de Brasil e Espanha e traz detalhes das diferenças gerais entre esses dois países na forma de enxergar o esporte e o futuro da prática.
Perarnau é um ex-atleta olímpico espanhol e que hoje se dedica ao jornalismo e à produção publicitária. Ele é especialista na formação organizacional do Futebol Club Barcelona e autor de vários livros sobre o tema.
Intitulado “Las diferencias culturales en el fútbol sala y la forma de ver el juego”, o artigo põe luz sobre a cultura do futebol e do futsal de Brasil e Espanha e da falta de planejamento coletivo do país sul-americano. Fernando Pacheco é estudioso da cultura organizacional e MBA em Gestão de Pessoas.
Confira o artigo abaixo em português.
A Copa do Mundo de Futsal demonstra mais uma diferença evidente de perfil esportivo e de filosofia entre Brasil e Espanha. E esse antagonismo não fica restrito a essa modalidade, mas pode ser visto em outros setores, principalmente no futebol de campo.
Um detalhe que me chamou atenção para escrever este artigo foi a cobertura da imprensa geral e especializada, além dos comentários dos torcedores comuns. Na Espanha, pelo que pude observar, a maior expectativa desde a estreia diante do Irã era evoluir taticamente, criar possibilidades coletivas, ampliar a coesão em quadra e se fortalecer mentalmente para as partidas mais duras que iriam chegar.
Já no Brasil, o grande destaque eram as jogadas individuais, os gols de Fernandinho, algum lance que Falcão poderia produzir humilhando o adversário. Não quer dizer que um está certo e o outro errado, nem que há mocinho e bandido nessa história. O objetivo desse texto é apenas mostrar as diferentes culturas esportivas entre esses dois países, que têm chance de decidir a competição no domingo.
O país sul-americano, como medida geral, espera sempre o surgimento de um talento individual, que vá resolver as coisas por conta própria. E isso não é restrito ao esporte. O planejamento e as projeções coletivas não fazem parte também das nossas organizações no cotidiano de trabalho. Esperamos sempre um “extra-classe’’ surgir e não nos preparamos para produzi-los em série.
Por um perfil histórico, e até com traços antropológicos, buscamos sempre a valorização ofensiva como prioridade nos esportes coletivos. Em entrevista no ano passado, o pivô Wilde foi indagado sobre a principal diferença entre Brasil e Espanha. Sem qualquer problema, o artilheiro respondeu que “na Espanha o objetivo é ter a posse de bola e progredir com consciência. No Brasil, a meta é terminar o ataque”. O discurso foi endossado por Ari, também jogador do Barcelona.
Javier Lozzano, responsável pelo bicampeonato do mundo com “La Roja” em 2000/2004 explicou que a importação de brasileiros para a Liga Nacional de Futbol Sala foi fundamental para mesclar estilos e aprender com detalhes que faltavam aos espanhóis. Por aqui, no meu país, seguimos valorizando o aspecto individual e não preparando uma forma de jogo para as futuras gerações.
Claro que o Brasil pode vencer a Espanha domingo e derrubar qualquer argumento usado neste artigo. OK. É possível. Porém, o intuito aqui é debater o legado esportivo deixado para as próximas gerações e para o futuro do esporte. Já não somos mais absolutos no futsal e deixamos de ser há muito no futebol de campo. É uma mudança cultural difícil e com traços históricos, mas algumas coisas precisam se alterar para que o Brasil possa ser referência novamente nesses esportes.
Pelo que podemos ver, Espanha seguirá à frente de nós, independentemente do que ocorra domingo, na Tailândia.