Talvez você viva isto todos os dias, mas ainda não sabe o que é realmente este conceito de bolha de filtro / filtro-bolha como apresentado por Eli Parisier.
“Um filtro-bolha é um estado de isolamento intelectual que pode resultar de pesquisas personalizadas quando um algoritmo de sites seleciona de forma seletiva as informações que um usuário gostaria de ver com base em informações sobre ele, tais como localização, comportamento de clique passado e histórico de pesquisa. Como resultado, os usuários se afastam de informações que não concordam com seus pontos de vista, efetivamente isolando-os em suas próprias bolhas culturais ou ideológicas. As escolhas feitas por esses algoritmos não são transparentes. Os principais exemplos incluem os resultados da Pesquisa personalizada do Google e as notícias personalizadas do Facebook.”
Bom, o assunto vem sido discutido constantemente por grandes especialistas e até o Bill Gates falou que não imaginava que esse comportamento tecnológico seria tão forte no contexto social. Mas é.
O intuito aqui é fazer um paralelo entre a bolha de filtro da internet e o mesmo conceito aplicado ao nosso sistema profissional (nem vou entrar muito no mérito pessoal, pois isso ficará para outra hora).
Muitas vezes, pelo andar da nossa carreira, acabamos ficando restritos a ambientes confinados e ensimesmados.
Constantemente me pego questionando sobre este dia a dia. Basta perceber nossa rotina de almoço, por exemplo. Raramente o assunto foge ao contexto no qual se vive, raramente ampliado ao entendimento na seguinte lógica:
área de trabalho — empresa — mercado regional no qual atua — mercado nacional no qual atua.
BOLHA.
Ponto final. Usualmente gira em torno disso.
Provavelmente isso nos levará a um “BIAS” extremamente unificado e direcionado ao nosso “mundinho profissional”. Isso descontextualiza visões externas e tira a noção de que existem outros lugares, além daquele lugar que você fala, vive, trabalha, mora e se relaciona.
Quando se pensa nessa bolha de filtro, profissional apenas, neste caso, esse comportamento levará a uma rigidez de raciocínio, impacto negativo de desenvolvimento intelectual e falta de aprendizado de conhecimentos úteis para o seu cenário. (Se quiser pensar dessa forma: é como se você tivesse que sair do seu dia a dia, para ser melhor no seu dia a dia. Não me agrada essa linha, mas é só para fazer sentido)
Começa a faltar repertório.
Pense nisso depois, se quiser, claro. Coisas simples do cotidiano podem quebrar isso, com relativa tranquilidade, como almoçar com pessoas diferentes, frequentar círculos sociais distintos, ler livros fora do seu ambiente usual, descobrir novos autores, ouvir pessoas de classes distintas e por aí vai.
Como costumo brincar com meus amigos mais próximos: “não vale a pena estudar aquilo que você já sabe”.
Como chegar a novas respostas, falando e fazendo as mesmas coisas, com as mesmas pessoas, nos mesmos dias, nos mesmos lugares?
É só uma provocação mesmo, para não deixar passar batido. Se vivermos numa bolha de filtro tecnológica, no qual os conteúdos já têm um forte direcionamento para o que pensamos, e ainda viver uma outra bolha profissional, nada diferente sairá dessa ‘vidinha’.
Grandes empreendedores e profissionais, em geral, conseguem ampliar essa forma de encarar os círculos e colhem muitas coisas positivas ao sair da bolha de filtro. Seja para seus negócios, para seu trabalho ou qualquer coisa do tipo. É o Ouro de tolo, como diria Raul Seixas.
Ciente de que todos vivemos essa bolha (eu, você, nossos amigos), temos que tentar pelo menos algumas coisinhas que nos tirem um pouco dela. Uma que agrada é conviver com profissionais mais velhos. Fiz grandes amigos assim, com diferença de 30, 35 anos entre nós. E fez um bem danado. Para a carreira, OK, mas principalmente para a vida.
*Fernando Pacheco é CEO da Penser, especialista em Gestão, Carreira e Liderança, e sempre está em busca de novas leituras, estudos e ideias para compartilhar.