Se você já fez parte de uma equipe liderada por alguém extremamente controlador, metódico e narcisista (ou se você é essa pessoa), você provavelmente já esteve diante de um dos maiores problemas relacionados à liderança e à administração: a microgestão. Esse é um desafio bem comum aos gestores e pode acontecer onde menos se espera.
Uma pesquisa realizada em 2016 mostrou que mais de dois terços de todos os líderes e gestores não consegue se comunicar com sua equipe e essa pode ser a causa fundamental da síndrome da microgestão. Mas não para por aí. O problema vai além e pode ser um reflexo de diferentes falhas no comportamento das figuras de referência dentro das empresas.
Afinal de contas, liderar não se resume a uma sequência de fatos e regras prontas. Muitas das características essenciais em um líder podem surgir ou sumir em diferentes ocasiões e, claro, devem ser sempre desenvolvidas. Criar esse grande pacote de “leadership” é um desafio árduo e exige muita humildade para perceber os sinais que o ambiente lhe oferece.
Estar presente e disponível para seu time é fundamental para conseguir construir uma gestão vencedora. Porém, também é preciso fazer com que as pessoas confiem em si mesmas e tenham autonomia para “andar com os próprios pés”. A linha entre acompanhamento e microgestão é muito tênue e, muitas vezes, por desconhecerem esse conceito e suas implicações, grandes líderes acabam colocando tudo a perder e caindo em um estado de perseguição – quase paranoica.
Se você acha que está vivendo um contexto tomado pela microgestão, ou se desconfia que sua liderança está seguindo por esse caminho (e quer evitar isso), é hora de conhecer um pouco mais sobre esse problema. Neste artigo, vamos falar sobre o que é microgestão, te ensinar a identificá-la e também dar dicas para que você lide melhor com ela – e a elimine.
Vamos lá?!
O que é microgestão?
Microgestão é a versão brasileira de um termo bastante conhecido pelos administradores norte-americanos: micromanagement. Em bom português, essa expressão diz respeito à um tipo de gestão baseado no controle excessivo no cotidiano, na falta de autonomia dos times e na paranoia dos líderes e gestores de uma equipe.
Segundo um artigo da Harvard Business Review, se você é o tipo de chefe que foca fortemente em detalhes, precisa sempre estar copiado nos e-mails e raramente está satisfeito com o trabalho da sua equipe, então não há nenhuma maneira gentil de dizer isto: você é um clássico microgestor. E para o bem da carreira e da sua equipe, você precisa parar!
A diferença entre microgestão e acompanhamento: uma linha tênue
Acompanhar de verdade não é algo tão complexo assim. É realmente ter disponibilidade e percepção para compreender os desafios que os colaboradores vivem no cotidiano, não se isolar atrás de uma mesa ou de um vidro e ser o guia que as pessoas precisam.
Parece simples, mas a maioria das pessoas tem dificuldade em exercer um verdadeiro acompanhamento.
Faça um exercício mental e pergunte a si mesmo qual foi a última vez que você conversou com alguém do seu time e entendeu como ele estava. Quando você ouviu realmente um desafio que ele estava enfrentando na vida pessoal, no trabalho ou nas diferentes esferas de sua vida? Você está pronto para estar ao lado da sua equipe, ou você só fala de você, só discorre sobre seu sucesso e o quão grande você é, sem demonstrar interesse genuíno em outras pessoas?
Esse é o primeiro ponto para trabalhar seu acompanhamento e fugir da microgestão.
Um líder precisa, sim, ter controle sobre sua equipe, mas primeiro é preciso compreender o que significa controle (o bom), para que tudo siga com fluidez. Se você sabe um básico de administração e gosta do método bem simples de PDCA, entende que o módulo “Controle” é fundamental para mensurar e analisar no dia a dia o comportamento das ações adotadas. Daí você já consegue perceber que há, semanticamente, uma noção leve de controle, de entender o que essa palavra significa, contextualmente. Não é preciso ficar no pé, com um binóculo, controlando cada passo. Isso é outra coisa. Isso é microgestão.
Com certeza você já pode ver ao longo da sua vida e da sua carreira líderes que não tinham controle sobre a equipe. Controle de compreensão, de saber as rotinas, de saber os resultados, de mensurar as ações, de saber para onde a equipe está indo. Isso acontece várias vezes na nossa trajetória profissional. É normal e há formas de recuperar a liderança, de andar junto com a equipe e fazer as coisas acontecerem.
E pode vir de várias maneiras: seja por meio de uma retomada situacional por transparência; por meio de ferramentas de gestão e tecnologia que permitam isso; por meio de feedbacks e conversas constantes; por meio de reuniões com toda a equipe; e por aí vai. É preciso tato e muita habilidade para saber o limite desse controle para essa retomada saudável. Mas é possível!
Acompanhar, controlar, ser guia é diferente de fazer microgestão e muito diferente de paranoia.
Quais são os prejuízos de praticar microgestão
A microgestão é um dos maiores problemas dentro das organizações e, além de prejuízos para as equipes e futuramente para os líderes, pode impactar diretamente os resultados da empresa.
Em primeiro lugar, a microgestão faz com que os colaboradores tenham sua autonomia limitada – não podendo tomar decisões ou correr riscos por si próprios – e isso faz com que, consequentemente, eles não consigam se desenvolver e ser parte atuante de suas próprias carreiras. Segundo Muriel Maignan Wilkins, co-autora do livro “Own the Room” e sócia da Paravis Partners, uma consultoria de treinamento e desenvolvimento de liderança executiva, “a microgestão drena a moral da sua equipe, estabelecendo um tom de desconfiança e que limita a capacidade de as pessoas crescerem”.
E com tantas pessoas e processos para coordenar de forma detalhada, com a microgestão o líder também perde sua importância estratégica e pode acabar prejudicando sua própria carreira, tendo também seu desenvolvimento travado. É preciso ter espaço para focar no que realmente importa e, de acordo com Karen Dillon, autora do Guia HBR para Office Politics, “se a sua mente é preenchida com os detalhes de nível micro, em um número considerável de postos de trabalho, não há espaço para grandes pensamentos e construção de imagens futuras”.
Em um cenário tomado pela microgestão, a capacidade de inovação e desenvolvimento de uma corporação também ficam fortemente comprometidas e isso pode gerar graves reflexos em seus resultados.
Portanto, é importante saber como lidar com a microgestão e, para isso, o primeiro passo é saber identificá-la – assunto sobre o qual vamos falar no próximo tópico.
Como saber se estou praticando microgestão
Normalmente, como citamos, a microgestão é um reflexo de diversas falhas relacionadas à capacidade de liderança de um indivíduo. Porém, existem alguns comportamentos e atitudes que, quando muito recorrentes ou observados em conjunto, podem significar que você (ou seu superior) está tendo esse problema.
Avalie:
- Você se preocupa demais com a “produtividade” da sua equipe? Conta quanto tempo cada pessoa faz de almoço ou lanche e quantas vezes elas vão ao banheiro?
- Você precisa estar por dentro de cada tarefa do dia a dia dos colaboradores e cobra ou reprime quando eles tentam fazer algo diferente da rotina?
- Você pede feedbacks, mas normalmente não os escuta realmente, por achar que as pessoas estão erradas?
- Faz muito tempo desde que você realmente conversou com sua equipe e escutou seu problemas e solicitações?
- Você está sempre cheio de tarefas para acompanhar, tem dificuldade em realmente delegar as coisas e fica sem tempo de investir em inovação e desenvolvimento?
- Acha que apenas o seu jeito é o jeito correto de fazer as coisas?
Se você respondeu “sim” a mais de uma das perguntas acima, a luzinha amarela deve piscar de maneira intermitente no seu cérebro. Chegou a hora de prestar atenção nisso!
Tente reparar: sua resposta à essas situações ocorre de forma mais intensa quando você está cansado, estressado ou frustrado com algum detalhe pessoal? Se sim, talvez seja hora de parar, refletir e compreender que essa é uma condição sua e não do “outro” naquele momento. Isso evitará que seu contexto atual interrompa o desenvolvimento, a motivação e até a carreira de outras pessoas. Muito cuidado para não ser o famoso “aponta dedo”. Olhe para dentro primeiro, antes de sair atrapalhando sua própria equipe com este comportamento paranoico.
Entender um pouco sobre autoconhecimento e inteligência emocional pode ajudar muito nesses casos.
Porém, se essas ações acontecem constantemente, independentemente do seu estado de espírito ou situação experimentada, então talvez haja realmente um problema de microgestão por trás disso.
Mas não se preocupe: existem formas de lidar com isso tudo e de reverter esse problema.
Como parar de fazer microgestão
Uma vez que você tenha identificado que realmente está tendo problemas de microgestão, é hora de procurar ajuda. De coração aberto e com a mente limpa, procure amigos, coaches, colegas que você confia, psicólogos, subordinados, chefes, seus pais ou sua família, para pedir feedback real.
O primeiro passo nesses casos, é realmente aceitar a situação e entender que uma mudança de postura vai afetar positivamente não só a sua carreira, mas a das pessoas ao seu redor e também os resultados da empresa. É importante desenvolver uma consciência de por que você é um micromanager. “Você precisa entender de onde isso está vindo”, explica Karen Dillon. “O mais provável é que isso surja por conta de alguma insegurança. Algo do tipo: você está com medo do que irá parecer caso sua equipe não faça algo exatamente do jeito que você faria.” completa ela.
Outra prática importante, segundo Muriel Maignan Wilkins é se perguntar: que desculpas estou usando para fazer micro gestão? Respostas como “muito está em jogo para permitir que isso dê errado”, costumam aparecer neste momento e o ideal é começar a focar nas razões pelas quais você não deve ser um microgestor e o que você ganhará se parar.
É importante também estar preparado para ouvir sua equipe e compreender seus feedbacks. Segundo Jennifer Chatman, professora da Haas School of Business da UC Berkeley, “muitas vezes há uma desconexão significativa entre o que os líderes têm como intenção e o que a equipe está realmente experimentando”. Ou seja, você pode apenas suspeitar que você tem um problema sério, enquanto os membros da equipe já estão incomodados com o seu comportamento há muito tempo. Caso faça um feedback amplo e anônimo, é importante estar aberto a coletar o resultado e não ficar apenas na defensiva. Do contrário, coletar feedback é apenas uma perda de tempo e uma farsa do tipo “eu sempre ouço as pessoas, peço a opinião delas, sou aberto”.
Outro ponto é tentar reparar se você tem agido assim com constância, e talvez até desde a infância. Quem sabe possa existir até uma condição mal resolvida em vários aspectos da vida? Muitas vezes há uma bagagem histórica tão forte que não nos faz perceber onde estamos errando. Sim, acontece, e é preciso tirar os preconceitos de dentro de nós com esses problemas. Isso não é demérito para ninguém. Basta estar disposto e procurar se tratar. Não importa se você é líder ou não. É uma questão de vida, não apenas do ambiente de trabalho. Nós somos muito mais do que profissionais, somos seres humanos complexos, com diferentes papéis sociais e funções.
De forma geral, para resolver uma crise de microgestão, é fundamental não apontar dedos, compreender o seu papel como líder e planejar a visão de futuro que você gostaria para sua equipe. Assim, por meio de conversas, mapeamento de atividades, mudanças de mentalidade, humildade, transparência, mecanismos de gestão e validação de processos claros entre as pessoas, a mudança virá em um curto espaço de tempo!
Conclusão: evitar a microgestão só depende de você
Não praticar a microgestão muitas vezes pode ser uma tarefa difícil. O medo de falhar, aliado à insegurança ou um ego muito inflado, podem fazer com que um líder se torne paranoico e super controlador.
Portanto, é importante olhar para si mesmo e buscar formas de trabalhar sua liderança, desenvolvendo sua carreira em conjunto com a da sua equipe. É preciso também perder o medo de errar e entender que alguns tropeços são necessários para que cada um consiga andar no caminho certo e “com os próprios pés”.
Jennifer Chatman reforça: “no começo, pode haver algumas falhas na forma como sua equipe aprende a acelerar, mas no final todos irão realizar mais, muito melhor, com maior responsabilidade e menos interferência.”.
Não existem líderes perfeitos e não existe uma equipe perfeita, mas com certeza você pode procurar por maneiras de chegar perto disso – e essa é uma das intenções deste artigo. Se você gostou e quer saber como a sua carreira pode ter mais propósito e mais conquistas, você pode pedir uma consultoria gratuita com os especialistas da Penser. Vamos crescer juntos!