Cargos estratégicos no futebol devem ser ocupados por gestores profissionais: papo com Ferran Soriano

Entristece ver dirigentes de clubes brasileiros com atitudes de torcedores, sem foco, sem propósito. Mancha cada vez mais a imagem de um esporte que já é, e sempre foi, marcado por ter alguns ‘profissionais’ abaixo da média e que ocupam seus cargos apenas por questões políticas e/ou por fatores escusos. Mas parece que a situação tende a mudar e a Copa do Mundo representa uma (última) chance de alterar o panorama.

Cada vez mais, equipes de futebol no Brasil têm investido em profissionais específicos para o setor administrativo e isso tende a ser um ganho enorme de qualidade no trabalho desenvolvido. Por movimentar bilhões por ano, a indústria do futebol precisa ser tratada como um universo corporativo, ocupado sempre pelos melhores, assim como acontece com grandes corporações.

Ferran Soriano, Esteve Calzada e tantos outros integrantes inseridos por Joan Laporta no FC Barcelona provaram que é possível alcançar este cenário. E não é algo que soa como longe, como “ah, o Barcelona”, “ah, a Europa é diferente”. É algo real, possível e plausível. Os cargos remunerados e efetivamente profissionais engrandecem a relação dos contratados com o clube e os ‘obrigam’ a gerar uma constância de resultados positivos fora de campo. É como acontece em qualquer empresa séria e que projeta evolução: finanças, marketing, administração e negócios devem ficar na mão daqueles que entendem e podem fazer mais e melhor. Temos gestores renomados e extremamente eficazes em diferentes esferas de trabalho e necessitamos assim também os ter no esporte número 1 do país.

Ferran e Esteve, por exemplo, são oriundos da Esade, uma das escolas de administração e economia mais conceituadas do mundo. A dupla só ingressou no futebol depois de passagens por empresas multinacionais de primeiro porte. Assim, levaram ao Barcelona um modelo de instituição empresarial, que visa o lucro e a boa relação com seus diferentes atores de negócios. E é notório que deu certo.

Em uma troca de email com o staff da Penser Desenvolvimento Estratégico, Ferran Soriano afirma que o futebol brasileiro tende a evoluir como gestão, impulsionado pela economia e pelo fator Copa, e cita um encontro positivo com dirigentes do Corinthians recentemente. Outro questionamento respondido pelo espanhol foi acerca de ex-jogadores ocuparem cargos estratégicos no futebol, mesmo que não sejam capazes e preparados para tal (há boas exceções, como Rodrigo Caetano, atualmente no Fluminense).

A visão que temos de fora do Brasil é que a administração do Futebol Brasileiro está mudando para melhor. Sempre houve alguns clubes bem gerenciados, mas cada dia existem mais e mais. A receita dos maiores clubes de futebol do Brasil dobrou nos últimos anos, chegando à altura dos países europeus medianos (por exemplo: São Paulo de 48,7m USD em 2005 a 135m USD em 2011; Corinthians de 42,5m USD em 2005 a 174m USD em 2011; Inter de 21,2m USD em 2005 a 107m USD em 2011) e este crescimento espetacular se realizou acompanhando o crescimento econômico geral do país, também melhorando a gestão dos clubes.

Como exemplo, conheci os administradores do Corinthians dos últimos anos, que não eram ex-jogadores e vinham de experiências completamente diversas. Acho que este contexto, a organização da Copa (que traz novos estádios para gerenciar), vai continuar fazendo com que a administração dos clubes seja melhor e que os clubes confiem cada vez mais em profissionais da gestão.

Dono de um português perfeito e fã do Brasil, Ferran assinou há 15 dias como consultor do América-MEX. Vale ressaltar a educação e a disponibilidade do ex-presidente da Spanair e ex-VP de Finanças do Barça ao responder o email sobre o artigo.

Ferran é ainda autor do livro “A bola não entra por acaso”, um best-seller da administração aplicada ao futebol, e esteve cotado recentemente para assumir um cargo no Manchester City.

Por Fernando Pacheco, diretor executivo da Penser. 

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