OK, estão faltando talentos. Mas os gestores sabem detectá-los?

Por Fernando Pacheco*

Quase em todas as rodas de conversas profissionais, seminários, encontros de negócios e observações sobre o mercado podemos ver surgindo a já famosa frase: “está faltando talento no Brasil”.

Tem sentido claro, objetivo e pode até ser percebido. É a realidade, um fato nacional. Mas hoje quero trazer um ponto de vista diferente, um lado mais duro para isso que se tornou um ‘senso comum’ em nosso país. Será que nossos gestores, quando diante de oportunidades, sabem detectar, encorajar, remunerar e gerir esses talentos? Foram preparados para tal e querem verdadeiramente isso?

Realmente está faltando profissionais jovens com perfil de liderança, como comportamento adequado às variadas situações e perfil técnico de primeiro nível. Porém, há mais pontos de reflexão neste caminho. Não dá para colocar o peso somente de um lado da balança. Não podemos ficar nessa lógica clássica do “Super Gestores vs Jovens Despreparados”.

Outro dia ouvi de uma consultora que as vagas procuradas nos processos seletivos não são das organizações, mas sim da cabeça do gerente que contrata. Muitas vezes, ele tem um candidato de primeiro nível à frente, preparado, com energia e gana, mas deixa passar, por estar amarrado ao perfil mental que criou para o posto (equivocadamente em alguns casos).

Além disso, temos dado um valor absurdo ao diploma e ao ‘papel acadêmico’ na tomada de decisão de contratação. As grandes companhias buscam profissionais de pouquíssimas áreas de formação e os programas de seleção só abrem espaço para ramos esses específicos. Perde-se, assim, oportunidade de ir além, de diversificar o conhecimento e aplicá-lo em inovação, ativo de pessoal, competências múltiplas. Desta forma, a possibilidade de trabalho apenas é replicada, seguindo as mesmas regras de sempre.

Creio, sinceramente, que precisamos de uma revisão nos nossos amarrados programas de seleção, que só cria uma repetição constante do mesmo (muda apenas quem senta na cadeira, de resto, realmente todos serão iguais). É necessário encontrar novas formas de avaliação, de buscar, de selecionar perfis. É de suma importância ter também a maturidade de descobrir e dar valor a talentos internos, inclusive para encorajar o surgimento de novas possibilidades, novos líderes.

É claro que este processo passa por uma educação de base forte, programas estruturais e políticas de longo prazo, ninguém é inocente para negar isso. Mas o ponto de vista que trago neste texto é apenas uma observação atual, a que também falta de capacidade de detecção.

Em acréscimo, e principalmente, é fundamental que nossos gestores sentem na cadeira da humildade e reconheçam que temos falhas ao não enxergar talentos, bem como empoderar, encorajar, liderar, estimular e ser parceiro. Demanda-se uma reformulação neste ponto, inclusive partindo das próprias organizações.

Aos jovens, o caminho precisa ser percorrido com mais vontade, com determinação, busca por capacitação. Existe, sim, falta de profissionais capacitados, com competências comportamentais. É real.

Porém, algum mea culpa precisa ser feito do outro lado. Do contrário, estaremos sempre chorando que ‘está faltando talentos’.

* Proprietário da Penser, Graduado em Comunicação e MBA em Gestão de Pessoas.

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